segunda-feira, 24 de abril de 2023

Prisioneiros de um hospital Psiquiatrico e a lição de liberdade

(English version below)

Prisioneiros de um hospital Psiquiatrico e a lição de liberdade

10 anos atrás,  enquanto eu fazia estagio de Arteterapia em um hospital psiquiatrico, lembro que esse estagio foi o que me deixou mais realizada. 
Fui pra atender os moradores psiquiatricos do hospital que viviam lá por praticamente toda a vida deles (abandonados pelas famílias em um tempo que qualquer desculpa era motivo para classificar alguem de louco*), e no fim, eles que me ensinaram sobre liberdade. 

*lembro que um dos moradores havia sido deixado lá pela familia por vestir a calça jeans do avesso. Qualquer coisa era motivo pra largar algum ente familiar lá.  Com os anos de "tratamentos experimentais" para psiquiatria e reclusão da sociedade, eles se tornaram paciente psiquiatricos. A mudanca da lei sobre deixar o paciente por toda a vida confinado em um hospital mudou tambem. Esses foram os ultimos pacientes de um tempo onde a exclusão de um familiar era viabilizado pelas autoridades.


24 de abril de 2013

Aprendi que música, é algo que vem de dentro, seja harmônico isso ou não. As atividades criativas servem para liberarmos um pouco do nosso sentimento, o nosso self.
Hoje estávamos, eu e um dos moradores do Hospital São Pedro, sentados sob o sol, frente a frente. Ele estava tocando violão, sem melodia alguma, e cantava tranquilamente com palavras desconexas. Percebi o quanto ele se sentia livre com aquilo.
Em seguida ele me entrega o violão e diz: “Toca e canta alguma coisa que tu goste.” Olhei atônita pra ele, pois não sei tocar e muito menos cantar. Ao que ele me disse “Sabe sim, toca”.
Senti-me um pouco desconfortável, mas ao me dar conta que ele também não sabia, comecei a tocar. Confesso que na hora não consegui cantar o que eu gostava. Pensei em uma música e comecei a reproduzir a letra. O som que saia do violão, nada tinha a ver com a música que eu cantava, mas mesmo assim, ele batia palmas, e estava com os olhos brilhantes e um sorriso no rosto. Parei de tocar e ele me disse: “Tu toca bem” (ainda recebi um elogio, com aquele “projeto” de música. hehe).

Paro e penso. Como nós nos limitamos por acreditar que o correto é aquilo que aprendemos. Sensatos são os ditos “loucos” que acreditam que o certo é aquilo que seu self lhe faz produzir.

@Hospital Psiquiatrico São Pedro, Porto Alegre, RS, Brasil 



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Prisoners of a Psychiatric Hospital and the Lesson of Freedom

10 years ago, while I was doing an Art Therapy internship at a psychiatric hospital, I remember that this internship was the one that made me feel the most fulfilled.
I went to attend to the psychiatric residents of the hospital who had lived there practically all their lives (abandoned by their families at a time when any excuse was enough to classify someone as crazy*), and in the end, they were the ones who taught me about freedom.

*I remember that one of the residents had been left there by his family for wearing his jeans inside out. Anything was an excuse to abandon a family member there. With years of "experimental treatments" for psychiatry and exclusion from society, they became psychiatric patients. The law regarding confining patients for their entire lives in a hospital also changed. These were the last patients from a time when the exclusion of a family member was facilitated by the authorities.

April 24, 2013

I learned that music is something that comes from within, whether it is harmonious or not. Creative activities serve to release a bit of our feelings, our self.
Today, I was sitting under the sun, face to face with one of the residents of São Pedro Hospital. He was playing the guitar without any melody and singing calmly with disconnected words. I realized how free he felt doing that.
Then he handed me the guitar and said, “Play and sing something you like.” I looked at him stunned because I don't know how to play or sing. To which he said, “Yes, you do. Play.”
I felt a bit uncomfortable, but realizing that he didn’t know either, I started to play. I confess that at the moment I couldn't sing what I liked. I thought of a song and began to reproduce the lyrics. The sound coming from the guitar had nothing to do with the song I was singing, but even so, he clapped and had bright eyes and a smile on his face. I stopped playing, and he said, “You play well” (I even received a compliment for that “project” of a song. hehe).

I stop and think. How we limit ourselves by believing that the right way is what we have learned. The so-called “crazy” ones are the sensible ones who believe that the right way is what their self makes them produce.

@Psychiatric Hospital São Pedro, Porto Alegre, RS, Brazil

sábado, 8 de abril de 2023

Sunset and Poetry at Manzanita/OR

It is such a blessing to shine, so bright
that everything that gets in touch with this light,
becomes alive.

Light and bright,
Feel its warmth,
At its full essence,
To be the reference
of the Great Sun to shine.

Inspiration mode on by our Grand Father Sun. 


A menina do véu


"Uma menina de grande beleza estava oculta sob um espesso véu cinza no qual estava pintado um rosto feio. Assim, a verdade de seu ser estava guardada em segredo e poucos se aventuraram a aproximar-se dela pela sua aparência pouco atraente. Ela cresceu e se deu conta de que a causa de sua solidão e perda de sua liberdade de movimento e saúde, se devia aos véus. Porém ela estava tão triste, acostumada àquela situação que acreditava não ser possível sobreviver sem eles. Entretanto, ela teve a sorte de encontrar um "mentor iluminado" de outro país, e finalmente foi convencida a descartar ao menos um véu. Depois de muito procurar pela força interior para fazer isso, implorou ao seu "mentor" que a ajudasse. Ele levantou as mãos dela e juntos tiraram o véu no qual estava pintado o rosto feio. Ela se sentiu muito melhor por ter feito aquilo. Começou a sentir uma certa alegria. Depois de um tempo, ela estava ansiosa para descartar outro véu e de novo seu "mentor" veio e a ajudou a tirá-lo. E assim continuou. Quanto mais véus retirava, mais leve se tornava e gradualmente vislumbrou a realidade da
natureza que a rodeava, podendo ver as árvores com clareza, os pássaros nos galhos e escutava
encantada os seus maravilhosos cantos. Ela viu a beleza nos rostos dos outros e começou a sentir o fluxo do amor em seu coração. A vida agora estava se transformando em um presente verdadeiramente Divino a ser apreciado. Diariamente agradecia ao seu "mentor" por ajudá-la a se transformar em uma pessoa tão feliz.
Finalmente chegou o tempo em que já não suportava mais o último véu que a envolvia. Ela sabia que aquele véu a estava separando da luz, beleza, harmonia e contato amoroso com outras pessoas belas. Embora não soubesse como poderia se arrumar sem ele, ela se retirou em silêncio junto com seu mentor e pediu que o último véu fosse fosse removido.
Aquele foi um tempo de agonia, já que o véu parecia ser parte do seu ser. Mas ela pediu e suplicou e em um momento de brilhante Luz, o véu queimou e se desprendeu dela. A forma que restou era a sua Realidade e ela entrou em uma perfeita liberdade interior!
Entretanto, sua Realidade individualizada agora tinha que encontrar um modo de funcionar no ambiente. Isso foi inesperadamente dificil, pois a sua percepção de Realidade ao redor e em seu interior era tão clara e transcendente, que tinha mudado radicalmente sua comunicação com os outros. Já não estava em paz em seu meio social e profissional, nem poderia permanecer como "membro de sua comunidade".
As pessoas olhavam para ela e diziam "Oh, é assim que você é, não tem nenhum véu, que horror! Nós achamos você muito estranha - inclusive um pouco louca". E deram as costas à ela. 
O que você pensa que ela fez? Voltou ao tempo em que usava véus tão pesados quanto os outros? Não, ela havia encontrado tamanha paz, alegria e satisfação de suas necessidades que deixou sua comunidade e se retirou, unindo-se a outras almas que reconheceram sua verdadeira identidade e responderam a ela com amor e alegria.
Diga-me, sua personalidade, seus véus, foram transformados? Não, com a ajuda de seu "mentor" ela retirou seus próprios véus, quando foi convencida por ele (a CONSCIÊNCIA DIVINA da VIDA) de que isso era o correto a fazer. Ao remover as diferentes camadas de véus, aproximou-se mais e mais do conhecimento intimo da Realidade - Alma que estava escondida por seus véus (sua personalidade)."


Parabola retirada do livro: Cartas de Cristo
Créditos da imagem: The "Veiled Virgin" by Italian sculptor Giovanni Strazza (1815–1878) in the early 1850s